Um médico à frente de seu tempo - Diets for a Better Future # 22
Em seus livros “Lugar de Médico é na Cozinha”, de 2008, e “Cirurgia Verde”, de 2017, o Dr. Alberto Peribanez Gonzalez já antecipa os efeitos dos padrões alimentares na saúde das populações e dos sistemas de produção agrícola no meio ambiente. Propõe em seus livros mudanças nos hábitos alimentares e nas formas de organização da produção agrícola e comercialização de alimentos, para benefício da saúde das pessoas e para o bem coletivo e social, mitigando o bem conhecido problema do aquecimento global. Essas ideias compõem o que ele denomina de “modelo biogênico”.
Diante da epidemia de obesidade, diversas vezes lembrada neste blog, e das ameaças do aquecimento global que extinguirá espécies, aumentará a frequência de eventos climáticos extremos (furações, tempestades devastadoras, ondas de calor extremo), inundará vastas áreas habitadas por centenas de milhões de pessoas, é preciso agir e logo. Desafios dessa magnitude originam iniciativas, como a da organização EAT-The Lancet, que propõem uma profunda transformação dos hábitos alimentares e das formas de produção, tanto com vistas à saúde das populações quanto à sustentabilidade da vida no planeta. Estão alinhadas com o que já propunha o Dr. Alberto Gonzalez em seus livros acima mencionados e na prática do modelo na origem carioca da Oficina da Semente na Lapa e depois em Campos do Jordão, Osasco, Capão Bonito e Ribeirão Grande, todos no estado de SP.
Esses temas vêm ocupando as pautas de importantes organizações internacionais, tanto na promoção de pesquisas quanto na proposição de políticas planetárias de ajuste. O EAT, apenas para dar um exemplo, é uma organização baseada em Oslo que tem por missão transformar o sistema global de alimentação por meio da ciência e novas parcerias, para um sistema justo e sustentável que promova a saúde das populações e do planeta. EAT lançou o relatório “Diets for a Better Future” que investiga os atuais padrões mundiais de alimentação praticados nos países do grupo G-20 e sua conformidade com as respectivas diretrizes nacionais da alimentação, comparadas com o que idealiza como a Dieta Planetária de Saúde Sustentável. Para o EAT, as diretrizes nacionais na maioria dos países do G-20, embora sejam adequadas, são muito pouco ambiciosas frente ao que é necessário para a limitação do aquecimento global. Além disso, mesmo essas pouco ambiciosas diretrizes estão longe de serem seguidas na prática.
O relatório Diets for a Better Future salienta que a produção de alimentos em larga escala é a atividade humana no planeta que tem o maior impacto no meio ambiente, ameaçando ecossistemas locais, conduzindo à extinção em massa de espécies (estaríamos na sexta grande onda de extinções em massa na história do planeta - período já denominado de Antropoceno - ameaçando a estabilidade do ecossistema planetário e elevando o risco de novas pandemias. Segue argumentando que uma mudança para dietas (no sentido de padrões alimentares) saudáveis e sustentáveis pode ter grande impacto na redução da emissão de gases de efeito estufa. A modelagem adotada no relatório faz parte do artigo publicado no prestigioso British Medical Journal em julho de 2020.
Outra organização que vale mencionar é a Comissão EAT-Lancet em Alimentos, Planeta e Saúde, formada por 37 cientistas líderes mundiais de 16 países, de diversas disciplinas. Essa comissão afirma que nos últimos tempos as dietas vêm seguindo uma tendência de crescimento do consumo de alimentos não saudáveis, como o excesso de consumo de carnes vermelhas, laticínios, açúcar e alimentos ultraprocessados e insuficiente consumo de alimentos fibrosos e nutritivos vegetais.
E é essa movimentação errônea para um padrão alimentar de baixa qualidade, com deficiências de nutrientes, que aumenta a incidência de obesidade e doenças crônicas, inclusive as coronarianas, derrames e diabetes. Resumindo, a migração para dietas menos nutritivas, mais calóricas e gordurosas aumenta o risco de morbidade e mortalidade. Por isso, a Comissão EAT-Lancet propõe a “Grande Transformação Alimentar”, migrando para padrões mais saudáveis e sustentáveis.
A recomendação da dieta saudável da Comissão se baseia em extensa literatura médica sobre alimentação, padrões alimentares e resultados em saúde. A Comissão tipifica o que ela entende como alimentação saudável: a que consiste basicamente em vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, castanhas e gorduras insaturadas, quantidade moderada de frutos do mar e aves, mas pequena ou nenhuma quantidade de carnes vermelhas ou processadas, açúcar, grãos refinados e alimentos vegetais ultraprocessados com alta quantidade de amido.
A Comissão desenvolveu as bases científicas para uma alimentação saudável e para um sistema de produção de alimentos socialmente justo, sustentável e capaz de nutrir a população do planeta que vai chegar aos dez bilhões de indivíduos em 2050. Dr. Alberto Gonzalez já tinha esta visão desde a virada do milênio, e agora, com seus parceiros e equipe Seed4Life trabalha ativamente nesta mesma direção.
Fonte: Diets-for-a-Better-Future_G20_National-Dietary-Guidelines.pdf (eatforum.org)